Entre Infectados
    Às Vezes Temos Que Lutar Para Sobreviver!

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Capítulo 5

Não mais sozinho

Peguei todos os dados possíveis de Roberta, onde ela morava e qualquer outra coisa que pudesse ajudar. Eu estava pronto para ir atrás dela! Mas antes eu deveria fazer algumas pesquisas que já vinha martelando meu cérebro por muito tempo. Saí da casa de jogos e entrei direto na F-250, o motor parecia estar um pouco frio, então dei um tempo pro carro ligar por completo, algo em torno de cinco minutos. Quando o barulho do ronco aumentou, senti que a caminhonete estava pronta para uma jornada, aliás, quase pronta, necessitava de gasolina, então minha primeira parada seria num posto, e havia um ali por perto. Segui numa descida e passei por cima de alguns galhos e pedras que estavam na rua, senti pequenos baques, mas nada que chegasse a incomodar, apenas me deixava com maior espírito de sobrevivente.
Em meio a paus e pedras do caminho, achei que o carro aguentaria tudo que pudesse me atrapalhar ali. Erro meu. No meio da descida, um estouro, em seguida, um clássico barulho de filmes de terror, algo como "shzssss", traduzido para "Pneus Furados". Fiquei com uma raiva extrema, peguei a chave e desci do carro, fechei-o totalmente e tranquei. Saí para buscar a gasolina e um pneu novo eu mesmo. Empurrar aquele carro de uns 3.000 quilos estava fora de questão, era um lugar muito íngreme para ir em segurança até lá embaixo. Troquei minha UZI por uma escopeta calibre 12 de aço inox, a qual dei o carinhoso nome de "Dôzinha" (rima com "dorzinha", entendeu?).
Fui descendo até o posto, no final da descida, sempre alerta contra qualquer ataque, uma mão na arma e outra no facão, prevenido. Vi de longe um infectado, um só tiro, e ele caiu, sem qualquer movimento. Quando vi aquela arma atirando foi incrível, nunca havia visto tiros como aquele. Talvez um segredo do exército, já que todo meu armamento vinha de um ex militar. Não apareceram muitos zumbis até que eu chegasse no posto. Matei alguns que estavam ali, talvez uns 8. Não me apresentavam muito perigo, mas fiz por garantia. Olhando bem a área do posto, vi um galão de água que estava ali perto. Iria me servir muito bem, então o esvaziei e o enchi novamente, agora com gasolina. Depois de quase 1 minuto e 20 litros de gasolina, escutei um grito: "Socorro!"
O grito vinha do segundo andar da loja de conveniência do posto, e parecia ser um grito feminino. Corri para ver o que era, e ao chegar, vi algo realmente assustador, era um infectado, mas não um comum, esse sim se parecia com um zumbi. Uma boca larga, com dentes que o faziam parecer o Venom, vilão do Homem-Aranha. Elhe olhou direto pra mim enquanto segurava uma moça que se debatia aos prantos. Fiquei sem reação por um tempo, mas depois que me dei conta da situação, lhe ataquei com o facão no braço que segurava a mulher. Vi um braço infectado caído no chão, e depois disso, uma mão vindo rapidamente em minha direção. Acertou a Dôzinha, mandando-a para longe, me arrependi de não ter colocado uma correia na arma. Mas eu ainda levava comigo o facão e meu instinto lutador falou mais alto naquele momento, nada de tentar pegar a escopeta. Dei um salto para trás e foquei o zumbi, segurei a facão como quem segura uma katana, só então parti para a luta. Tentei cortá-lo pelo meio, mas ele conseguiu segurar meu braço, então joguei a faca para o outro que estava livre. Cortei-lhe no braço que segurava minha mão. Achei que havia acabado quando vi apenas uma boca enorme vindo em minha direção. No susto, dei um pulo para trás, peguei a dôzinha caída no chão e atirei. Um tiro certeiro na cabeça fez o joão-sem-braço ser explodido e cair no chão. A mulher deu um grito assustada com o tiro. Fui na sua direção.
Foi duro explicar à ela que eu apenas queria seu bem, não tiro sua razão, naquela situação não é possível confiar nem mesmo em nós. Já calma, começamos a conversar. Perguntei-lhe seu nome, Isabel. Usei um pouco de psicologia para conseguir conversar normalmente com ela. Após algum tempo, descobri sua história, dita por ela assim:

- Eu e meu marido estávamos tentando mantermo-nos seguros, andávamos de carro por vários lugares procurando por algum que nos parecesse totalmente confiável, mas nada. Então quando estávamos passando por aqui, resolvemos abastecer nosso carro, já que nosso combustível estava acabando. Quando descemos, meu marido foi pegar mais comida enquanto enquanto eu abastecia, de cá, só ouvi seu grito. Corria para ver o que era mas foi tarde demais. Aquele "bicho" havia atacado meu marido e já estava me atacando, quando você chegou.

Me senti com pena total daquela moça, perdera seu marido a pouco tempo e fora atacada por um infectado terrível. Tinha que ser muito forte para aguentar aquela dor. A chamei para seguir caminho comigo, ela ficou um pouco apreensiva, mas não tinha escolha. Tive uma idéia muito louca na cabeça e perguntei à Isabel se conseguia correr. Ela disse que sim. Entreguei a dôzinha para ela, entrei novamente na loja de conveniência e busquei um pneu novo e um macaco, coloquei o
macaco na calça e amarrei uma corda ao pneu e à mim, para facilitar meu caminho. Liguei todos os sons que haviam ali na loja e ajustei o volume no máximo. Peguei o galão cheio e pus sobre os ombros. Foi difícil pra mim correr com um pneu e um galão de gasolina, ainda mais por que era subida. Abri o carro e joguei o galão e o pneu pra dentro. Isabel entrou e eu também. Peguei a arma com ela e mirei pra fora do carro, pela janela. Soltei o freio do carro e o deixei descer. Chegando lá embaixo, foi ainda melhor do que eu esperava. Ao passar pelo posto, vários infectados curtiam o som dá música espanhola que tocava, e olharam direto para o carro quando passei por ali. Dei um tiro direto no tanque de gasolina e acelerei. Foi difícil controlar o carro sem um pneu, mas valeu a pena. Ri "de orelha à orelha" quando vi vários daqueles monstrinhos explodidos. Acho que Isabel se assustou um pouco com o que fiz, mas não disse nada. Fui dirigindo até me afastar um pouco do posto. Achei um lugar que parecia seguro e fui trocar o pneu do carro. Não foi porque eu precisava, mas pedi Isabel para me ajudar. Peguei o macaco e levantei o carro, encaixei uma chave que já tinha encontrado na caminhonete e fui tirando os parafusos do pneu, no último, pedi a Isabel que rodasse a chave para mim. Ela se esforçou tanto que caiu no chão. Nós dois rimos e percebi que ela era uma boa pessoa. Fui rodar a chave eu mesmo, e quando segurei, encostei um dedo na parte de baixo do carro, fiquei com o dedo um pouco sujo da graxa que estava ali. Limpei a pontinha do meu dedo em Isabel, que ficou parecendo um ursinho com o nariz manchado de preto. Só então reparei em como ela era linda. Um longo e liso cabelo preto, olhos castanhos, muito escuros e um sorriso que te envolvia por completo de tão bonito, seu corpo era igualmente lindo. Acho que eu estava apaixonado.
Depois de pneu trocado, enchi o tanque da caminhonete e ainda sobrou meio galão de gasolina. Entrei no carro e Isabel também. Dei à ela a minha querida UZI de presente, uma arma leve e efetiva, boa para uma mulher, e eu fiquei com minha dôzinha. Seguimos caminho conversando sobre diversos assuntos, mas toda vez que um assunto estava rendendo, voltávamos a lembrar de como era a vida antes da tragédia. Coloquei uma música de Red Hot Chilli Peppers, "My Boy, My Girl" e ela começou a cantar junto comigo, e ficamos embalados por aquele som.
Resolvi parar, afim de descansar um pouco. Peguei algumas barras de cereais e alguns chocolates, dei alguns para Isabel, que agradeceu e fez uma proposta simples. Trocarmos um pedacinho do chocolate diferente que tínhamos. Ela colocou um pedaço de chocolate na minha boca, sutilmente, eu fiz igual. Depois, ficamos nos olhando por algum tempo e acho que nos dois sabíamos o que fazer. Pensei se aquela era a hora certa, seu marido havia morrido há algumas horas. Enquanto eu pensava ela agiu. Me agarrou e antes que eu agisse me deu um beijo louco. Pelo jeito que ela se moveu percebi que ela estava em desespero, mas correspondi ao beijo, sei que não era fácil tomar aquela decisão e nem manter a calma perante a pandemia.
Após o beijo, ambos ficamos meio pasmos, sem atitude no momento. Ficamos nos entreolhando e conversamos um pouco. Coloquei algumas músicas e ficamos curtindo o momento, fazia muito frio, peguei algumas roupas para nós, mas nada que esquentasse muito, de propósito. Ficamos ali curtindo o momento, bebemos um pouco e fomos dormir, abraçados, para diminuir a sensação de frio. Eu estava normal por fora, como sempre era, mas por dentro, estava eufórico por ter alguém que eu gostava que andaria comigo a partir de agora. Seria um ciclo onde um protege o outro, e o dá de brinde a alegria de ficar vivo e feliz.
Apesar de estar bem, por assim dizer, eu não poderia esquecer do meu propósito final. Salvar aquela garota, Roberta, que estava no Brasil, mas agora eu não iria mais sozinho.